Querido diário,
Sigo aqui na minha incessante busca por um contatinho de qualidade. Após fazer muita terapia, descobri numa das sessões, que ter que esconder o que eu faço das pessoas, me causa certos bloqueios, por eu não conseguir ser eu mesma. Dito isso, com minha última experiência do Bumble, decidi aderir uma estratégia diferente. 😼
Dei match com um cara interessante e já comecei a puxar papo com algo escrito na sua bio, sobre ele correr de pessoas que usam a própria foto de fundo (que não é o meu caso, vale ressaltar). Daí a conversa foi desenrolando até chegar na parte em que dizemos o que cada um faz da vida. Decidi aplicar aqui o meu plano. Afinal, era um completo estranho, não tínhamos nenhum amigo em comum, não estava apaixonada por ele, logo, se desse tudo errado, eu não teria nada a perder.
Decidi lhe trazer algo relacionado a minha vida secreta. Eu não disse na lata que era acompanhante, mas contei que escrevia para o blog de uma (o que de certa forma é verdade, indo pela lógica de que quem escreve para a Sara é a persona por de trás dela 😉). A conversa foi mais ou menos assim:
– Eu escrevo sobre blá, blá, blá, erotismo, blá, blá. (Claro que a palavra “erotismo” saltou na frase.)
– Onde encontro seus textos?
– Eu escrevo para dois blogs. O meu, que, confesso, está um pouco abandonado e temas mais picantes para o blog de uma acompanhante.
… suspense…
– O que é um blog de acompanhante?
Como assim, gente?
– Um site em que publico meus textos, como se fosse autoria dela, rs. Você não sabe o que é acompanhante?
– Acompanhante é tipo uma prostituta?
Vê-lo pronunciar “prostituta” me soou tão preconceituoso. Poderia ter dito “garota de programa” ou “profissional do sexo”, sei lá.
– Isso, mas prostituta é uma palavra muito forte. Para quem é do meio há diferença na nomenclatura.
– Ahh, não sabia. Qual a diferença? Posso ler o blog? Fiquei curioso.
– Acompanhante é como se fosse uma modelo ficha rosa. O sexo não é o mais importante e sim a companhia. O sexo é consequência. Vou ver com ela se posso divulgar para alguém que não é o público dela.
E o papo encerrou aí, por hora.
Fui compartilhar com uma amiga (a Emma Loli, que vocês já conhecem), e ela recriminou totalmente a minha estratégia:
– Ai amiga, não sei… pra mim essa história não cola. Me pareceu muito aqueles papos de adolescente, tipo assim: “ei, a minha amiga quer ficar com você”, sendo que na verdade é a menina que quer. Sabe quando a gente fica colocando uma amiga no meio, pra falar o que a gente quer ou o que a gente é? Você ficou defendendo muito, tipo assim: “Nossa não, não é prostituta, essa palavra é muito forte…” já tá se doendo, muito informada do assunto. E esses assuntos é bom nem mencionar. Isso não valoriza a sua imagem para um namoro sério, ou casamento. Infelizmente tem coisa que a gente tem que deixar guardado. Tem coisa da nossa vida que não precisamos expor. A não ser que você queira ser acompanhante pra sempre na sua vida. É isso que você quer? Agora se for um plano para algo maior no futuro, deixa em off. As pessoas não precisam saber como que você conseguiu pagar todos esses cursos para se tornar uma atriz maravilhosa. Não precisam saber o seu caminho. Não vai interferir na relação, você não está fazendo mal a ele, não está fazendo mal a ninguém, então não precisa contar. Passa longe desse assunto. Aí você fala: “Ai vou ver com ela se posso passar para alguém que não é o público dela”, como você sabe que ele não é o público dela? Porque para uma acompanhante, quanto mais divulgar, melhor. Ele é homem, hétero, então é o público dela.
Eita que balde de água fria! Fui respondendo ponto a ponto:
– Mas amiga eu não mostrei nada pra ele, quem garante que existe realmente esse site? Quem garante que eu escrevo realmente? Entendeu, quem garante? Ninguém garante nada. E eu não estava “me doendo”, estava apenas explicando. Ele não é o público dela simplesmente pelo fato dele sequer saber da existência do blog dela. O cara que pergunta “o que é um blog de acompanhante?”, claramente não é o público. Não basta ser homem e hétero para ser considerado o público alvo. O público dela são homens que gastam dinheiro com esse serviço. E outra, quem disse que eu quero namorar ou casar com esse menino? Amiga, eu estou exercitando uma coisa minha de aceitação, de falar pras pessoas, de não ter vergonha do que eu sou, é um processo de aceitação, estou apenas me exercitando. O problema da sociedade é que as próprias acompanhantes tem preconceito com o que faz.
– Amiga, mas aceitar quem você é? Você é tantas coisas. Por que você tem que falar disso como principal? Então isso te define? É uma coisa que te define pro seu futuro, como carreira, sonhos e aspirações? Agora se for uma parte da sua vida, que você está fazendo e tem prazo de validade, algo que você faz agora para alcançar outra coisa maior no futuro, para quê vai se desgastar falando disso, que já é um assunto delicado pras pessoas, sendo que não é isso que você vai fazer pra sempre?
– Muito psicóloga ela. – Encerrei o assunto.
Outro dia ele me cobrou sobre o site, se ela tinha autorizado passar e, com as palavras da Emma reverberando na minha cabeça, respondi que não, que não poderia.
– 🙁
Refleti ainda mais e depois mudei de ideia. Mandei o site para ele, precisava concluir o meu experimento.
Ele chegou aqui no blog e se deparou com o post anterior, “O Meu Melhor Contantinho” e já veio comentar:
– Que delícia. Quero um contatinho desse.
– Quer ser meu contatinho? – Já fui direto ao ponto.
– Quero muito. Quero você.
– Precisamos nos conhecer pessoalmente primeiro.
E já combinamos o primeiro encontro, noite de sábado, num barzinho de drinks, sugerido por ele, chamado Regô, na República.
Assim que desci do Uber e o avistei na calçada, gostei do que vi. Alto, bastante cabelo na cabeça, bonito de rosto, como nas fotos, os únicos pontos de alerta foram, primeiro, para o seu físico, sabe aquele que tá começando a engordar, mas ainda não pode ser considerado um gordinho? Tipo isso. E segundo, sua vestimenta, a calça que ele usava era muito justa (ao ponto de ver como as pernas estavam engordando) e All Star nos pés (sou um pouco avessa a homens adultos que se vestem como adolescente). Usava uma camisa preta (ufa, sem estampas) e, de modo geral, senti uma energia muito boa. Ele também era de Áries, o que prometia um match incrível na cama.
Gostei que ele se mostrou muito interessado em me ouvir, começou a puxar assunto sobre a minha vida no teatro – já que quase não fui encontrá-lo, mencionando o possível cansaço do ensaio que ocorreu naquele dia – e eu não estava nem um pouco tensa ou nervosa – como costumo ficar em primeiros encontros – por justamente ter dentro de mim de que se ele fosse minimamente esperto, já tinha sacado que “eu” era a “Sara” – afinal, mandei o blog, ele poderia ter fuçado as redes, visto as fotos e ter se dado conta de que éramos muito parecidas – e, se ainda assim quis me encontrar, então eu poderia ser eu mesma que estava tudo certo. Em pouco tempo, o beijo rolou. 💋 Achei delicioso. Fazia tempo que eu não beijava alguém desconhecido na minha vida pessoal e sentia aquele tesãozinho.
Conversamos muuuuuito, uma conversa super fluída, animada, eu ria com ele, ele ria comigo, estava tudo maravilhoso, um date perfeito. Várias vezes voltávamos a nos beijar e a vontade de transar só crescia. Porém, nesse dia, eu tinha uma grande questão, eu não poderia transar, pois, faria um exame ginecológico de rotina no dia seguinte e tinha que estar em abstinência. Não valeria a pena quebrar o resguarde, pelo tempo que eu já estava nessa. Eu, inclusive, quase cancelei o encontro com ele por conta disso, pois, me conhecendo, sabia que passaria vontade se gostasse dele. Mas, ao mesmo tempo, não queria perder o timing do date e também pensei: “não sou obrigada a transar no primeiro encontro”, então, não seria esquisito se não rolasse.
Em determinada altura, ele começou a soltar umas putarias no meu ouvido. Dizendo que queria me chupar, por exemplo. Como eu já estava muito excitada com os nossos beijos, super aprovei esse jeitinho mais safado, mas, não pude corresponder do jeito que ele merecia, pois, se eu não ia poder transar naquela noite, por que iria atiçar ainda mais o menino? Então eu só olhava pra ele e dizia: “Hummmmm” ele deve ter pensado: “Cadê aquela escritora de contos eróticos? Só sabe dizer hummmmm??” 😂😂😂
Conforme o date foi se encaminhando para um ponto de “vai ou racha”, eu apenas falei: “Hoje eu vim só para te conhecer”, tive que jogar aquele balde de água fria, pois chegou um momento em que o comportamento de um destoava muito do outro.
Daí o encontro foi minguando, já tava chato ficar só beijando sabendo que não ia dar em nada. Ele anunciou que estava ficando com sono e foi a deixa para irmos embora. Pagou a comanda sozinho (cavalheiro, gostei), e, na calçada, enquanto aguardávamos nosso uber (que convenientemente chegaram ao mesmo tempo), ele tentou a sua última cartada, me encoxando fortemente, para que eu sentisse o tamanho do seu volume.
– Gostou? – Ele perguntou.
– Gostei. – Mas nada fiz.
Cheguei em casa, lhe avisei que tinha chegado (conforme me pediu) e daí ele quis continuar o papo de putaria. Eu mordia e assoprava. Falei que estava com a calcinha molhada.
– Deixa eu ver? – Ele pediu.
– O que eu ganho em troca?
– Te mostro como estou por aqui. – E já mandou um vídeo curto, filmando apenas a parte da cueca, preta, em que ele passava a mão no volume, que, naquele ângulo, não parecia tão volumoso assim.
Enviei a foto da calcinha e aí ele disse que queria ver meus seios. Daí nessa hora fiquei na dúvida se ele realmente sabia que eu era a tal acompanhante, pois já teria visto meus seios nas redes sociais.
– Isso é tudo que você terá hoje. – Cortei.
Ele ficou se lamentando.
– Sua imaginação cuidará do resto. – Fui mais enfática no corte e parei de responder. Não me agradava ficar trocando putaria com alguém que eu ainda não tinha transado. E se a transa fosse ruim? De que valeria toda aquela falação?
No dia seguinte, para que a última mensagem não ficasse sendo a dele deixado no vácuo, puxei assunto:
– Boa tarde taradinho.
– Boa tarde taradinha do screenshot.
– Como assim?
– Eu percebi que você tirou print do meu vídeo ontem.
Eu tinha mesmo. Não printei, mas gravei da tela. Como ele tinha mandado visualização única, quis gravar para o caso de ser algo muito bom que eu quisesse ver de novo depois. Muito X9 esse Instagram. Aff.
– E você guardou essa informação para um momento preciso.
– Ontem estava muito entretido pra dizer qualquer coisa.
– Estava mesmo, muito empolgado.
– Pois é hahaha.
E o assunto morreu aí.
Durante a semana, tomei a iniciativa de convidá-lo para assistir uma peça de teatro no sábado seguinte. Uns amigos meus estavam se formando e era um espetáculo de conclusão de curso, completamente gratuito. Fui assistir 5x e toda vez que eu ia levava mais pessoas, pra vocês verem o tanto que eu gostei do espetáculo, realmente incrível! Achei que seria um rolê divertido pra gente, não queria ir direto transar, sem fazer algo antes.
A partir daqui as coisas começaram a ficar estranhas.
Nossa comunicação era toda pelo Instagram. Sequer trocamos número de telefone no encontro. Eu fiz o convite umas 10h da manhã e ele foi me responder às cinco da tarde, estando online VÁRIAS VEZES. Não que eu estivesse controlando, mas, por acaso, quase sempre o via online, quando eu entrava também.
Você deve estar pensando o que qualquer pessoa normal pensaria: “Ahh ele devia estar ocupado, trabalhando, o Instagram estava aberto no computador”, mas se fosse o caso, ele permaneceria sempre online e não entrando e saindo. Enfim, comecei a reparar nesses detalhes e senti um certo descaso. Ele sequer tinha visualizado, totalmente desinteressado. Lá pelas cinco da tarde, sua resposta veio e foi super negativa:
– Olar. Tudo bem e com você? – Quem usa “olar” com uma possível crush? Pra mim isso é muito dialeto de friendzone. – Sábado já marquei compromisso. – Seco assim. Sequer sugeriu outra data.
Preciso acrescentar um rápido adendo: No barzinho, após eu dizer que naquela noite não rolaria, eu mesma já tentei combinar um próximo date. O diálogo foi:
– Quando vamos nos ver de novo? – Já intimei.
– Durante a semana eu tô morto.
– Então próximo sábado?
E ele concordou! Daí agora, o bonitão vem dizer que já tinha marcado outro compromisso.
Fiquei muito com a sensação de que como não embarquei no seu papo de putaria, eu não tinha mais serventia pra ele. Ao mesmo tempo, fiquei com várias indagações:
- Não dizem que o homem se atrai pelo difícil?
- Se já estava me tratando com esse descaso sem ter me comido (quando em tese deveria estar mais interessado), imagine depois que me comesse?
- Será que ele achou que eu seria difícil demais e simplesmente não quis ter trabalho?
- Ou descobriu que eu era acompanhante e achou ridículo o meu “joguinho”? (Que na verdade nem era um.)
- Ou descobriu que eu era acompanhante e ficou com preconceito.
Conversei com um amigo, para ter uma visão masculina das coisas:
– Amiga, já chama ele pra transar. Diz que está com tesão e quer experimentar ele. Homem gosta de ser usado. Seja dominadora.
– Pra que vou dar esse gostinho dele me comer, me tratando desse jeito? O cara sequer tá se esforçando pra isso.
– Ele está te ignorando e vc está caindo no jogo dele. Reverte isso. Não é sobre dar o gostinho é sobre ganhar o jogo kkkkk.
– Reverter dando o que ele quer?
– Ou é o que vc quer? 😏
Realmente eu queria. Tá. Mandei a mensagem.
– Mas a gente não ia transar no sábado? Já tínhamos combinado na noite do barzinho. – Trouxe logo o assunto para a putaria, já que, pelo visto, era isso que o atraía.
Daí, minha gente, isso era 20h e ele online. No dia seguinte, 8h, novamente ele online e eu continuava ignorada. Isso me indignou muito. 12h no vácuo. Agi impulsivamente e lhe enviei um áudio bem malcriada. Antes que desse tempo de eu apagar, agora sim ele foi rápido e abriu a conversa. O que ele fez após ouvir o áudio? Exatamente o que eu pedi, deixou de me seguir, nem tentou reverter a situação.
Ai que merda, rs.
Pior que eu estava super curiosa pra transar com ele, fiquei muito atiçada na noite do barzinho e só não fui para os finalmentes por motivo de força maior. Não estava aceitando a derrota e fui lá mexer na merda mais um pouco. Pedi que ele me esclarecesse o que tinha acontecido.
– Não tem nada a ver com não embarcar com a conversa sexual eu não sair no sábado com você. Mas se você reage assim a eu não te responder na mesma hora é melhor a gente não continuar o papo mesmo.
Entendo completamente que ninguém tem obrigação de ser rápido nas mensagens, mas a falta de prontidão me pareceu muito proposital, visto que houve uma mudança significativa de comportamento, pois, quando estávamos na fase de combinar o date, ele respondia rápido e agora demorava até mesmo para visualizar o que eu mandava, mesmo ele estando quase sempre online.
Levei toda essa análise para ele, que, com certeza, me achou controladora e possessiva. Eu só piorava as coisas. 🤦🏼♀️
– Okay, eu não vou fazer nada pra reverter a situação. E desculpas por ter cancelado algo que eu tinha combinado antes. Aconteceu que eu marquei outro compromisso. Foi isso. Eu esqueci.
Fiquei me sentindo a louca da história.
Eu ainda estava querendo transar com ele, então, mais tarde, no mesmo dia, fiz uma última tentativa de reverter a situação:
– Posso te chamar pra ir lá em casa hoje a noite então? Já que pelo visto eu tive uma interpretação errada das coisas… Não quero que fique com a imagem de que eu sou uma surtada rs, além de eu realmente ter curtido você.
Quem adivinhar a resposta dele, sem ler a continuação, vai ganhar um encontro de 1h comigo! 😄
Ele disse:
– Oi *****. Não quero, mas obrigado pelo convite.
E encerrou assim. Fim. 🤡
Aceito análises e teorias nos comentários. 👀