Querido diário,
Já tinha saído com esse cliente duas vezes, sendo a última vez uma semana antes deste novo encontro. As coisas começaram a ficar estranhas poucos minutos antes do horário combinado.
Eu sempre peço para o cliente chegar um pouquinho antes no motel, para já ir pegando a suíte, e ele disse que me enviaria o número 30 minutos antes. O que não aconteceu. Quando faltava 15 minutos para o nosso date, lhe enviei uma mensagem, avisando que eu estava indo e nem sinal dele. O que achei mega estranho, para quem disse que me enviaria o número 30 minutos antes! Fiquei insegura de sair de casa e, para variar, também estava com dificuldade de conseguir um motorista.
Quando faltava 2 minutos para o nosso encontro, enviei uma nova mensagem, perguntando se ele estava chegando. Dois minutos depois ele respondeu que ainda não, que estava corrido e perguntou se eu já estava no Uber. O fato dele perguntar se eu já estava a caminho, me deu uma sensação de que se eu não estivesse, ele iria cancelar, assim em cima da hora. Não gostei nada dessa sensação. Eu já estava a caminho, mas chegaria atrasada, por todo o contexto.
– Você tá indo pra lá agora? – Perguntei, preocupada em ficar desabrigada.
– Chego rapidão. No worry.
– Aguardo o número do quarto então.
– Tah.
Dez minutos depois nada dele mandar o número da suíte!
– Estou muito perto. Você já está chegando ou já chegou?
– Chegando.
– Em quanto tempo? – Eu já estava quase na porta do motel!
– Pronto. 43 suíte. Pode vir.
Quando cheguei, aconteceu outro fato estranho, que não pude deixar de reparar. A atendente, que geralmente só pega o meu documento e me indica a direção do quarto, telefonou para a suíte e consegui ouvi-la dizer: “Ciente disso?” Na hora não entendi muito bem, no entanto, mais pra frente fará sentido.
Ao entrar na suíte, ele estava entrando no banho e um minuto depois, telefonaram da recepção. Atendi o telefone.
– O rapaz está saindo, pode liberar?
Achei que ela estivesse falando do motorista de Uber que me deixou dentro do motel.
– Ele é Uber. Pode. – Até estranhei eles ligarem para perguntar isso.
– Mas ele tá com uma menina.
– Deve ter pegado uma corrida aqui dentro então.
– O rapaz está aí? Preciso que ele libere.
– Ele está no banho.
Daí comecei a entender que ela falava de outra pessoa que estava no quarto antes de mim, mas achei que ela pudesse ter se confundido.
– Tem certeza que é suíte 43? Eu acabei de chegar aqui. Estamos iniciando a suíte agora.
– Só um momento por favor.
Me deixou um tempão na espera, até que desliguei o telefone. Achei que tivesse sido confusão da recepcionista, mas, quando o cliente saiu do banho, o vi ligar na recepção.
– Oi, é pra mim ligar aí? – Alguém deve ter mandado uma mensagem para ele.
Alguns milésimos em silêncio – que deduzi ser o tempo da recepcionista perguntar se podia liberar tal pessoa – e então ele respondeu: “ok”.
Meu faro investigativo foi atiçado na mesma hora!
– Você já estava aqui??
Ele hesitou em responder, como se não tivesse me escutado, fazendo com que eu repetisse a pergunta.
– Estava, cheguei um pouquinho antes para trabalhar. Deixei o micro lá no carro. – Forçando uma descontração, como se não tivesse sido pego na mentira.
Na mesma hora me veio um sentimento ruim. O cara ficou enrolando para passar o número do quarto, dando a entender que estava preso no trabalho, falando que chegava rápido, sendo que já estava na suíte há um tempão?! Por que ele tinha mentido?!
– Que estranho, porque quando você estava no banho, ela ligou perguntando se podia liberar a pessoa que estava aqui, mas eu falei que tinha acabado de chegar, agora ela ligou e você liberou a saída.
– Foi isso que ela disse? Eu não entendi, ela falou tão rápido, só falei ok.
Como que alguém diria “Ok” para algo que nem estivesse entendendo do que se tratava? Kkkkk.
Achei aquilo tudo muito estranho, ele estava mentindo, mas a questão era, por que? O cara não me deve satisfação nenhuma, não sou mulher dele, qual o problema de admitir que estava sim com outra pessoa no quarto antes de mim? Eu até brincaria, dizendo algo como: “Que disposição hein! Dois encontros seguidos!”, mas se ele mentiu algo tão bobo, era porque nesse mato tinha coelho!
Foi se encaixando o enigma na minha cabeça. Quando a recepcionista disse “Você está ciente disso”, é o tipo de aviso que elas dão quando tem pessoas demais na suíte e terá custo adicional pela pessoa extra. Quando ela telefonou e perguntou se poderia liberar o rapaz, será que por acaso a pessoa que estava na suíte antes era um traveco e por isso ele estava tentando camuflar a mentira?
Cara, se tem uma coisa que eu desprezo muito nessa vida, é a mentira. Fiquei com um sentimento ruim de estar sendo enganada. Iniciamos os beijos e fiquei tentando me condicionar a deixar isso para lá, “ele é um cliente, foda-se que está mentindo, isso não te afeta em nada”, fiquei mentalizando pra mim mesma, mas não estava funcionando. Se sentir enganada, independente da situação, também te faz se sentir idiota. Seria mais bonito ele admitir logo que estava com alguém no quarto, ainda mais depois de todo aquele papelão de enrolar pra me passar o número da suíte, sendo que ele já estava no motel há muito tempo. Achei péssimo tudo aquilo. Eu sempre me entrego nos encontros, mas eu não estava conseguindo imergir, beijava de um jeito bem mecânico, zero prazer de estar ali.
Quando iniciamos a transa, tive mais uma confirmação de que ele já tinha realizado outro encontro antes, quando, no meio do rala e rola feroz, ele broxou. Claro que o cara broxar pode ter inúmeros motivos, mas, no caso dele, que é muito safado e foguento, só queria dizer uma coisa: ele já estava satisfeito. Parti para o oral e é claro que deu trabalho. Chegou um momento que tentei inovar, fazendo beijo grego, enquanto ele se masturbava. Depois de muito tempo, ele gozou e mal tinha porra.
– Não sobrou mais nada aí, hein, rs. – Soltei, como quem diz: “Eu sei que você já gozou antes”, daí ele tentou disfarçar, dizendo que tinha escorrido para o lado, mas não tinha, rs.
Depois fui tomar meu banho e comecei a me vestir, ainda tínhamos tempo, mas via-se claramente que ele só estava cumprindo o protocolo. Não teria segunda rodada, uma vez que a primeira já tinha sido capenga. Eu também não estava com clima pra ficar jogando conversa fora.
Não gostei de ficar desconfiada e da falta de transparência. Tô nem aí se ele curte experimentar coisas com homens ou qualquer outra coisa, quem sou eu para julgar? Mas me fazer ficar esperando pelo número da suíte até o último instante, quando ele já estava lá, e ainda mentir sobre isso, achei muito desrespeito com o meu trabalho.
Agora a pergunta que não quer calar é: Quem será que estava na baguncinha antes de eu chegar? 👀
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