Réveillon no Rio – Parte 2

Primeiro dia de praia, ai que delícia! Aquele sol escaldante, somado ao calor abundante, era exatamente tudo o que a gente precisava! Compramos nossas canguinhas, alugamos um guarda sol com duas cadeiras e lá estávamos nós, lindas e belas, pleníssimas estendidas na areia. Estávamos tão maravilhadas por estar na praia num belíssimo dia de sol e calor como aquele, curtindo nossas férias maravilhosamente, em frente ao Copacabana Palace, tão absortas no nosso mundinho, dentro da nossa bolha, que, nesse primeiro momento, não percebemos a quantidade de pessoas estranhas e esquisitas que jaziam por todos os lados naquela areia. 

A primeira ilusão visual foi quando chegou um casal e se instalaram a poucos metros da gente. Os apelidamos de “O falso jogador de futebol e sua mulher gringa”. Quando eles chegaram, foi uma entrada triunfal. Eles trouxeram uma caixa de som gigantesca e colocaram uma música eletrônica que ecoava por toda a praia. Chegaram no exato momento em que a Gabi tinha acabado de comprar, de um camelô, uma caixinha de som vagabunda, só para ouvirmos entre nós duas ali mesmo. Quando o casal vizinho chegou e colocou a caixa de som deles pra funcionar, a nossa ficou apagada e até brinquei com a tal gringa que o som deles tinha humilhado o nosso. Ela deu um sorriso amarelo, como se não tivesse entendido a piada, e atribuímos o seu não entendimento a sua possível origem estrangeira. 

– Aposto que ele é jogador de futebol, que nem o Neymar! E essa namorada dele é gringa! – Análise prematura da Gabi.

A tal gringa usava uma canga branca de bolinhas pretas, algo que realmente parecia refinado. Com o passar do tempo, notamos uma constante movimentação no vizinho ao lado. Sempre ia alguém falar com ele e ele, o tal jogador de futebol, mostrava uma corrente dourada para a tal pessoa.

– Ele está vendendo correntes de ouro na praia! Que chique! – Novamente Gabi, a iludida.

Ficamos algumas horas curtindo o sol e cuidando da vida alheia, até que, com o passar do dia, o filtro da riqueza foi se esvaindo dos nossos olhos, principalmente dos da Gabi, que desde o princípio pintou uma imagem glamourosa deles.

Quando a tal gringa tirou a canga, revelando uma tatuagem de péssimo gosto na região do bumbum – era um tribal – , Gabi caiu em si que aquela mulher não era gringa coisa nenhuma! Dito isso, instantaneamente, a tal gringa já não parecia mais tão bonita e exótica, mas sim uma mulher comum e sem atitude, ao lado de um cara que dava mais atenção para as pessoas que vinham até ele, do que para ela que estava o tempo inteiro ali.

Mais tarde ainda, uns dois policiais rondaram onde estávamos e caímos em si que, na verdade, aquelas correntes douradas deveriam ser fachada para um esquema de venda de drogas. Ou seja, estava rolando o maior tráfico ali, bem debaixo dos nossos narizes e a Gabi achando que o possível traficante era jogador de futebol! ???

*

Paralelamente, observamos também uma mulher, alguns metros à frente, descolorindo seus pelos como se estivesse no quintal da sua casa. Uma visão horrorosa, minha gente! Ficamos abismadas com a coragem daquela mulher, não se importando com o ridículo.

– Vai ver, aqui isso é normal. – Ponderou Gabi, tão confusa quanto eu, diante dos hábitos cariocas.

*

Uma outra situação estranha foi quando, de repente, alguém jogou areia na gente. As duas espalhafatosas gritaram e quando olhamos para o lado, tinha sido uma criança que estava junto com a sua família. Todos os membros presentes nos encararam, com a maior cara de poucos amigos. Gabi, para disfarçar o climão que se instaurou, falou: “Me assustei, rs”, como se as erradas fôssemos nós, por termos gritado. Eles, no entanto, sequer pediram desculpas pela sapecagem da criança e continuaram nos fuzilando, como se fôssemos duas intrusas.

– É amiga, acho que as pessoas que moram em Copa já foram tudo viajar. Essas que estão aqui são pessoas que moram em bairros mais distantes. – Mais uma análise da Gabi, agora sim, mais certa do que nunca.

Voltamos para o hotel, levemente desapontadas. Esperávamos paquerar na praia, encontrar pessoas bonitas e interessantes, mas não foi bem isso que aconteceu.

Pelo menos ainda nos restava a noite…

Nos arrumamos lindamente e fomos num Pub chamado: “The Rock Bar”. Estava bastante promissor. Teve um show de música ao vivo, tínhamos reservado uma mesa, comemos, bebemos algumas bebidas – infelizmente não conseguimos ficar bêbadas – e até fui reconhecida por um cara que dei match no Tinder na noite anterior. 
 
Contudo, nada significativo acontecia naquele pub. Éramos as gatas que não deram certo no rolê. Impressionante. Saímos de lá e fomos para outro lugar. Nesse outro – que sequer lembro o nome – , pagamos entrada para irmos embora em menos de uma hora. Tocava pagode, depois mudou para eletrônico, o que em outro momento teria nos animado, porém, como estávamos vindo de outro agito, à essa altura já não tínhamos mais tanto pique. Voltamos para o hotel, novamente frustradas.
 

– É amiga, a viagem não está sendo como imaginávamos. – Falei um pouco desanimada, enquanto estávamos no Uber, rumando de volta para o hotel.

– É amiga, não está mesmo não. – Respondeu Gabi, vencida pelo cansaço.

Mas a viagem estava apenas começando!! Dias melhores viriam!!