Querido diário…
Descobri uma página feminista no Instagram.
Alguns conteúdos sobre a violência contra a mulher me chamaram atenção. Chocada e interessada, comecei a seguir o perfil. Alguns dias se passaram e uma postagem recente dessa página, apareceu no meu feed. Resolvi fuçar naquela conta novamente.
Na época (coisa de poucas semanas atrás) tinha 47 mil seguidores. Olhei com mais atenção as postagens e percebi que seguiam sempre a mesma linha de crítica social. Criticando o abuso que ocorre com muitas mulheres, ao se envolverem com qualquer coisa relacionada ao sexo. Algumas postagens bastante relevantes e outras sensacionalistas. Comecei a ficar muito incomodada quando vi uma postagem sobre um esquema de prostituição pelo qual eu sabia como funcionava. E o que estava escrito ali era pura distorção. Não me contive a até comentei:
Eles escreveram a notícia como se as garotas que entraram no esquema fossem pobres vítimas! Oi? Elas estavam sendo todas muito bem pagas por algo que elas mesmas aceitaram! Detesto hipocrisia! Eu mesma participei do tal processo e só não fui adiante pois não concordei com a cláusula de transar com o cara sem preservativo! Tudo isso foi condicionado no momento da seleção, ou seja, nenhuma menina chega na hora H sem ter concordado com tudo!
A partir do momento que eu vejo algo errado em qualquer coisa, imediatamente já começo a investigar mais (coisa de jornalista investigativa, rs) e resolvi olhar o destaque intitulado “Prostituição” dessa página. Me deparei com um conteúdo totalmente extremista:
Prostituição é estupro pago?! Oi?! Que visão mais distorcida é essa??! Trabalho sexual não é trabalho? What?! Perante a lei pode não ser mesmo, mas para as mulheres que exercem tal profissão e para os clientes que pagam por este serviço, é muito! Aliás, toda atividade remunerada é um TRABALHO!
Novamente não me contive. Desta vez enviei uma mensagem no privado, abordando essas manchetes agressivas que em nada eu concordava!
Fala sério, que absurdo! Parecia que eu estava lendo um livro do século passado – no qual precisei ler para o meu TCC da faculdade – , sobre a história da prostituição, em que tudo, até o próprio autor da obra, é contra a atividade, falando mal, a todo custo, a cada frase.
A página me respondeu.
Se pautam pelo todo? Claro que não, né? O todo é O Todo e eu não estou incluída nele! Não é porque eles estudaram somente sobre as oprimidas que a prostituição não possa ter os dois lados! Continuei o debate:
Novamente me responderam:
99%?? Mas não é meixmo! Se querem dizer que são a maioria ok, mas dizer que são 99% é muita forçação de barra! Que dados estatísticos são esses que deixaram de fora todas as acompanhantes de luxo e modelos ficha rosa? Elas representam apenas 1% desse Brasilzão? Certeza? Sei não, hein!
Sim, continuei debatendo pois é um assunto que me interessa e argumentaria até o final. Já eles, por sua vez, estavam ficando cada vez mais sem munição. Me responderam perguntando de onde vinha a minha certeza.
Nesse ponto do debate percebi que nada que eu dissesse os fariam repensar os seus conceitos. Eles continuariam falando mal da prostituição, independentemente de quem estivesse defendendo, como se marginalizar a atividade fizesse com que a mesma fosse extinguida instantaneamente.
Ignoraram todos os meus argumentos e apenas perguntaram qual porcentagem eu chutaria, já que não concordava com os 99%. Respondi 70% (ainda concordei que, talvez, com a maioria das mulheres não seja uma experiência satisfatória), o que só lhes deu manga para contra-argumentar:
Nem sei se o meu percentual estimado está correto, talvez seja até mais (ou menos), mas a essa altura isso era o que menos importava. Apontei para um problema muito maior! O problema não é a prostituição em si, mas a maneira como essas mulheres adentraram nesse meio! Pois se o problema fosse a atividade, não existiriam pessoas “bem sucedidas” como eu, por exemplo.
É muito fácil falar de prostitutas menores de idade no Nordeste, mas entrar na questão de como elas foram parar nesse meio, nada, né? A família que vende a própria filha, tudo bem? A culpa é da prostituição por existir ou de pessoas que se apoiaram nela, de maneira errada, para tirar proveito financeiro? Os problemas dessas mulheres não começaram em onde eles foram parar e sim em como elas foram.
Nesse momento em que me aprofundei mais no x da questão, fui ignorada. Claro, é muito conveniente calar a boca quando não se tem mais argumentos. Eu só fico preocupada com os números de pessoas alienadas que seguem essa página. Essas 70% ou 99% de mulheres aliciadas continuarão existindo e vivenciando péssimas experiências, enquanto a prostituição continuar não sendo corretamente abordada.
Vamos debater a respeito também? Qual a opinião de vocês sobre isso?